Os guardiões da verdade

Quando poucos decidem a verdade, a liberdade de expressão é o primeiro sacrifício.

Checagem de fatos continuará, só mudará de mãos. Em vez de meia dúzia de checadores ideologicamente enviesados, elas passam para a comunidade de usuários. Melhor: agora podem ser revisadas pelos próprios usuários. Em democracias, as coisas funcionam assim.

Liberdade de expressão não é passe livre para cometer crimes. Se alguém é racista, deve ser processado e julgado. Se caluniou ou difamou, o mesmo vale. E não, não é o tribunal do cancelamento que decide, mas um tribunal real, com garantias fundamentais. Democracias fortes funcionam assim.

Invocar o fascismo virou atalho fácil para evitar debates. Guilherme faz isso para atacar Musk – na rede do próprio Musk, diga-se. Irônico? Talvez. Democrático? Sem dúvida. Esse tipo de associação exagerada faz parte do jogo. Isso se chama liberdade de expressão. Será que no fascismo real (não nessa da imaginação) você era livre para criticar? "Benito ha sempre ragione".

Ele diz que checagem de fatos "não tem nada a ver com censura". Depende, né? Quando serve para desqualificar conteúdo ou limitar discussões, vira censura disfarçada. O problema não é a checagem, mas quem a faz e com qual autoridade. Quando poucos decidem o que é "verdade", o viés e o autoritarismo encontram terreno fértil. Isso é, sim, é uma brecha para o Estado Total. Por isso, checagem pela comunidade é mais democrática.

Ele critica quem "desencoraja vacinação com mentiras" ou espalha teorias imorais. Concordo: essas práticas são péssimas. Mas o que ele sugere? Que essas opiniões sejam suprimidas em nome da democracia. Além de censura, é um erro básico: desinformação não se combate com silêncio imposto, mas com mais informação. Calar vozes absurdas só as transforma em mártires. Extremistas – de todos os espectros – crescem assim. O debate aberto é o único antídoto para esclarecer o público e corrigir erros. Democracia é a melhor forma de correção de desinformação.

Em uma democracia, as pessoas são perfeitamente capazes de discernir algo tão básico sem a necessidade de um "guia" para lhes dizer o que é verdade. A liberdade de expressão não existe para proteger apenas as verdades universais como "azul é azul" ou "amarelo é amarelo", mas para garantir que opiniões controversas, incômodas ou até erradas possam ser expressas sem censura. Como essas, do Guilherme.